Dr. Lucio Ernlund escreve artigo para SBRATE – Científica

O Retorno ao esporte de alto rendimento inicia-se no momento da lesão. Como em todo atendimento de emergência, a qualidade técnica deste primeiro atendimento poderá ser determinante para o resultado final do tratamento.

Em junho de 2019, um painel multidisciplinar de especialistas internacionais em lesões do Ligamento Cruzado Anterior, LCA, incluindo cirurgiões ortopédicos, médicos de medicina física e reabilitação, fisioterapeutas e cientistas, foram convocados em um esforço de construção de consenso que culminou no ACL Consensus Meeting Panther Symposium realizado na The University of Pittsburgh e University of Pittsburgh Medical Center em Pittsburgh, PA, EUA. O simpósio contou com delegados de 18 países, abrangendo 6 continentes.

Durante a realização do consenso internacional diversas afirmações foram avaliadas acerca do tema e, ao serem discutidas com os componentes do painel, trouxeram concordâncias de 85% a 100 %, o que contribuiu para a validação das opiniões:

• O retorno ao esporte (RTS) caracteriza-se por alcançar o nível de pré-lesão da participação esportiva como definido pelo mesmo tipo, frequência, intensidade e qualidade de desempenho como antes da lesão. (24/26, acordo de 92%)
• A liberação médica esportiva deve ser feita antes de progredir o paciente para treinamento e competição irrestritos (acordo 25/26, 96%).
• A liberação para retornar à participação plena deve ser seguida por um plano cuidadosamente estruturado para voltar aos treinos antes do retorno progressivo à competição (26/26, 100% de acordo).
• A liberação para a participação plena (prática seguida de competição) deve ser uma decisão multidisciplinar envolvendo o paciente, seu pai se o paciente tiver menos de 18 anos, cirurgião, médico da equipe e fisioterapeuta/instrutor atlético (26/26, concordância 100%).
• A tomada de decisão puramente baseada no tempo de retorno ao esporte deve ser abandonada na prática clínica (26/26, 100% de concordância).
• A tomada de decisão da RTS deve incluir dados objetivos de exame físico (por exemplo, testes e medidas clínicas) (acordo 26/26, 100%).
• Os pacientes devem passar por um teste RTS padronizado, validado e revisado por pares, com respeito aos tempos de cura tecidual, antes de retornar à participação plena após lesão da LCA com ou sem reconstrução da LCA (23/26, acordo de 88%).
• A tomada de decisão do RTS inclui prontidão psicológica medida por uma escala validada (acordo de 22/26, 85%).
• A decisão de liberar um atleta para retornar ao esporte deve considerar fatores contextuais (tipo de esporte, momento da temporada, posição, nível de competição, etc.) (26/26, 100% de concordância).
• Deve-se considerar a natureza e a gravidade das lesões concomitantes do joelho (por exemplo, cartilagem e menisco) ao tomar decisões de RTS (25/26, 96% de concordância).
• Em pacientes ativos que desejam voltar a saltar, cortar e pivotar esportes (por exemplo futebol, futebol americano, handebol, basquete), o tratamento cirúrgico é a opção preferida para manter a participação atlética a médio e longo prazo (1-5 anos após lesão) (concordo 23/23; 100%)

Não há consenso sobre as fases da ligamentização no humano e todos os estudos tentam extrapolar resultados de animais. Para podermos determinar o momento de Retorno ao Esporte (RTS) precisamos entender o que ocorreu de errado para desencadear a rotura do LCA.

POSIÇÃO DE ALTO E BAIXO RISCO DURANTE A ATERRISSAGEM, A POSIÇÃO “SEM RETORNO”

A lesão ocorre por um pivot shift na aterrissagem:

Joelho: subluxação anterior da tíbia
Quadril: rotação interna com adução
rotação femoral inicialmente interna e após externa com colapso em valgo
Apenas 70 milisegundos são necessários para romper o LCA

 

Deve-se buscar o balanço entre a cicatrização biológica e o estímulo funcional
Os protocolos têm de estar baseados em critérios e não em tempo

1. Ter total controle do paciente desde a lesão até o retorno ao esporte
2. Usar uma estratégia de time de trabalho com estrutura ideal
3. Valorizar critérios de progressão
4. Incluir reabilitação supervisionada no campo

CONCLUSÃO

As declarações resultantes do consenso, aqui apresentado, e a lógica científica visam informar sobre o complexo processo de RTS após a lesão da LCA que ocorre ao longo de um contínuo dinâmico. Muita pesquisa ainda é necessária para determinar a bateria ideal de testes RTS, a melhor implementação de testes de prontidão psicológica e métodos para a avaliação biológica da cura e recuperação.

BIBLIOGRAFIA:

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fonte: https://sbrate.com.br/cientifico/retorno-ao-esporte-apos-reconstrucao-do-ligamento-cruzado-anterior/